

À descoberta das Hortas ... no Bairro Padre Cruz
FASE 3: 1990 – 2004: ‘BAIRRO(s) DE CONTRASTES’
No seguimento das directrizes camarárias iniciadas em 1987, é a partir de 1990 que se inicia uma nova e determinante fase de evolução urbanística e social do Bairro.
Em consequência de novos rearranjos urbanísticos na cidade, assiste-se ao acelerado crescimento do “bairro novo”, até somar 1.290 casas.
No total, o Bairro irá ter 2.475 fogos de diferentes tipologias e ocupará uma extensa área de 38 hectares.
Com mais de 8.000 habitantes será o maior Bairro municipal da Península Ibérica.
Esta é a fase mais acentuada de novos realojamentos: progressivamente vão chegando moradores provenientes de núcleos de barracas da cidade (Quinta das Fonsecas, Quinta da Macaca, Azinhaga dos Barros e Quinta dos Milagres).
Por fases, são realojados nos prédios construídos pela Câmara para esse efeito.
Após 1993, ocorrem realojamentos de outros agregados familiares (vindos do Bairro da Liberdade, Casal do Sola, Alto dos Moinhos, Quinta José Pinto, Quinta do Pisany (64 famílias, 316 indivíduos…).
Acentua-se a diversidade étnica e cultural (angolanos, cabo-verdianos, guineenses e etnia cigana…).
São construídos novos equipamentos – Centro Polivalente que acolhe a nova biblioteca, um centro de dia e creche (estes últimos da responsabilidade da SCMLx) escolas (1º, 2º ciclos), esquadra, espaços verdes e de recreio,…
Biblioteca Natália Correia
Foto de Maria Manuel Passas
Jardim de Infância
Foto de Maria Manuel Passas Escola EB 2ºe 3ºciclos
Foto de Maria Manuel Passas
Surgem outros pontos de comércio. O Bairro Padre Cruz transforma-se numa “pequena cidade” dentro da Cidade.
Os nomes das ruas recebem nomes de eminentes professores.
Não obstante, o desenho deste novo bairro revela uma preocupação com os espaços exteriores e zonas comuns – largos passeios, praças e pracetas, zonas verdes e de recreio, fluidez na circulação viária…
As acessibilidades transfiguram-se dando lugar a ruas e avenidas que facilitam a mobilidade viária. Porém, não reflectem de uma adequada integração na malha do bairro ou até da cidade. Antes, representam novos eixos de tensão e preocupação.
Ao nível das vivências, das ‘paisagens interiores’, acentua-se a diferenciação entre modos de habitar ‘territórios’ – “bairro antigo” versus “bairro novo”; sobressaem contrastes entre as populações das duas partes distintas do Bairro.
A unidade e vínculos iniciais fragmentam-se.
Ocorrem nítidas fracturas na partilha do território, bem como na sua percepção e valoração. Os bairro(s) demarcam-se por uma fronteira psicológica que se ‘materializa’ no atravessamento de uma avenida.
O “bairro antigo” configura-se como uma pequena ilha de resistência e de sobrevivência das (“boas”) memórias do Bairro. Ainda assim, procura manter vivas certas tradições festivas (as marchas do Bairro) e emergem novos laços de associativismo (Associação Juvenil Renascer) que lhe conferem nova vitalidade interventiva e reivindicativa.
A representação da rua como espaço de sociabilidade mudou radicalmente - de anterior espaço de integração, inter-conhecimento, proximidade e descoberta, no “bairro novo” simboliza ‘perigos’, abandonos, vazios de interacção, “lugares de não-pertença”, de vulnerabilidades e exposição a riscos vários.
Os moradores do “bairro antigo” sentem-se ameaçados com a presença dos novos realojados, lesados nas suas conquistas mais fundamentais e indignados com a demora nas resoluções camarárias.
Agravando a tensão entre populações, no verão de 1995, sem qualquer aviso nem acompanhamento, são realojados perto de 400 indivíduos de etnia cigana na zona norte adjacente ao Bairro, no Vale do Forno.
A evidente precariedade das condições desses realojamentos fez deste um período particularmente conturbado na vida do Bairro que a inscrição de uma só assentada de 125 crianças de etnia cigana para frequentar esse ano lectivo muito evidenciou.
Em paralelo assiste-se à acelerada degradação da qualidade habitacional do “bairro antigo” e ao envelhecimento da sua população; generaliza-se um sentimento de indignação e abandono contrastante com os grandes investimentos realizados na parcela nova do Bairro.
O Grupo Comunitário e a Junta de Freguesia reforçam o trabalho de pareceria entre instituições e o envolvimento entre moradores.
Vivem-se momentos de indecisão política quanto ao futuro do bairro de alvenaria – recuperação ou demolição?
Reforço e esforço continuado por parte da Junta de Freguesia de Carnide e da Associação de Moradores alertando para o agravamento das condições de vida da população do “bairro antigo”.
Rua Prof. Tiago de Oliveira
Foto de Maria Manuel Passas



