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FASE 1 - 1959 a 1974: ‘OS ARTESÃOS DO BAIRRO’

 

Breve enquadramento histórico:

Ao longo dos últimos cinquenta anos foi possível verificar um acentuado aumento demográfico no Concelho de Lisboa.

A década de sessenta evidencia a fixação de massas de migrantes, nomeadamente populações rurais empobrecidas e sem trabalho, em busca de melhores condições de vida. Vinham atraídas pelo crescimento económico da região da capital que sofria grandes investimentos, em grande parte devido ao projecto urbano do Estado Novo (implementado por Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas e Presidente da Câmara de Lisboa) que investia numa (nova) cidade à escala do “império” que custosamente defendia. (…)

Consequentemente, verificou-se um fluxo de populações, um acentuado êxodo rural. O despovoamento do interior acentua-se.

Porém, na cidade prometida não havia capacidade de acolhimento. 

Sem qualquer estrutura de apoio, as “gentes do campo” procuraram resolver os problemas mais urgentes e prementes de inserção nesse “novo e estranho” e espaço da cidade.

Verificaram-se, então, a proliferação de iniciativas espontâneas e desordenadas de construção de habitações, multiplicando os bairros de lata, soluções imediatas para as famílias mais carenciadas economicamente.

A cintura externa de Lisboa àquela época – Olivais, Marvila, Benfica, S. Domingos de Benfica, Carnide e Lumiar viram crescer as suas populações residentes.

A resposta pública revelou-se manifestamente insuficiente e milhares de famílias concentraram-se em zonas periféricas, socialmente mais desvalorizadas.

Multiplicaram-se barracas desprovidas de qualquer infra-estrutura e condições de conforto. 

Em 1960, um estudo da CML refere a situação de 43.470 pessoas a residir em 10.918 barracas. E, se bem sabemos que Carnide não terá sido das zonas de Lisboa onde esses núcleos de barraca mais se fixaram, foi no território desta Freguesia que, nos finais dos anos cinquenta e década de sessenta ocorreram intervenções camarárias para o realojamento de algumas dessas populações a par com os realojamentos consequentes das obras de expansão da cidade.

 

Assim, o processo de “formação” do Bairro poderá ser subdividido em dois períodos distintos:

 

1959-67: “do bairro anónimo ao bairro das inaugurações”

 

É durante este primeiro período que se assiste à construção das primitivas casas provisórias de lusalite ou “Bairro das Casas Desmontáveis”, segundo qualificação camarária.

Construídas num material de fibrocimento extremamente vulnerável e de condições e tamanhos exíguos, as casas são distribuídas por cinco ruas paralelas e uma transversal. Ao todo, formarão um pequeno bairro com seis ruas para acolher duzentas famílias maioritariamente de trabalhadores da Câmara provenientes de outros bairros precários e provisórios de Lisboa (Quinta da Calçada e da então designada “Ponte Salazar”). 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                                 Rua 6, 1962

                                                                                   Arq. Fotográfico CML

 

 

 

A população fundadora do Bairro era, na sua larga maioria constituída por famílias originárias do norte e centro do país, de fracos recursos económicos e sociais, com fraca instrução primária (na generalidade da população masculina e bem menor na feminina) com hábitos de trabalho e profissionalmente inseridas.

Esta sub-fase regista uma toponímia ainda indefinida das ruas (ruas numeradas).

No início, aquela parcela do bairro dispunha apenas de cabine telefónica, marco do correio, lavadouro, pequena mercearia (a actual velhinha “casa branca”), barbearia, minúscula taberna. Às suas portas circulavam e pousavam outros vendedores ambulantes.

Por volta de 1960, começa a surgir outro tipo de construção no bairro com características mais definitivas – o bairro das vivendas de alvenaria.

São alinhadas 917 casas em ruas estreitas e cruzadas que terão o nome dos rios de Portugal (e esta toponímia passa também a substituir a anterior numeração no “bairro de lusalite”; possivelmente as abundantes linhas de água do terreno teriam inspirado a toponímia que passa a unir o bairro).

Algumas destas casas são “duplex,” com dois andares e pequenos logradouros.

 

                                                                                 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                   

                                               

                               Rua Rio Cávado                                                                                              Rua Rio Tejo

                        Arq. Fotográfico da CML                                                                       Arq. Fotográfico da CML

 

Na sua maioria continuam a ser ocupadas, sobretudo, por famílias de funcionários camarários realojadas de outras zonas da cidade.

Nesta parcela do bairro constroem-se alguns equipamentos de apoio: escola primária, igreja,  mercado, centro social e salão de festas e de trabalho, sala de leitura/biblioteca, lavadouros,  sede do clube desportivo “Os Unidos” e zona desportiva.

Com um total de 1.117 casas/famílias, o bairro transforma-se numa “aldeia portuguesa” distante e segregada do centro da cidade.

A presença dos equipamentos a somar ao isolamento geográfico confere-lhe sustentabilidade e potencia um sentido de comunidade.

Em redor, mantêm-se os campos de cultivo que confirmam um aspecto de ilha branca – à medida que vai crescendo isolada do tecido urbano.

As escassas azinhagas eram os únicos acessos de ligação do Bairro a Carnide (onde os residentes apanhavam o “amarelinho” nº 13, em direcção ao centro da cidade) e à Pontinha.

Serão estes – Carnide e Pontinha - os locais de referência que medeiam (com preponderâncias distintas) a ligação deste Bairro emergente à cidade de Lisboa.

Na sua fase final, este foi um período vincadamente marcado pela euforia das inaugurações dos vários equipamentos sociais com visitas frequentes ao Bairro por parte de responsáveis camarários, eclesiásticos ou individualidades do governo. Várias efemérides ocorrem durante o ano de 1962 e repetem-se em 1967 com o devido aparato propagandista do Estado Novo.

Neste ano é colocada a lápide comemorativa do Bairro e descerrado o busto do Padre Cruz. Atendendo a que o início do bairro coincide com o ano comemorativo do nascimento do Padre Francisco Rodrigues da Cruz (1859-1948), o Bairro ganha um patrono de evidente cariz assistencialista.

 

 

excertos, com adaptações, incluídos no Projecto Comunitário de Investigação e Divulgação "Construir Cidade à escala humana - história e memórias do Bairro Padre Cruz, em Carnide", de Fátima Freitas, com o apoio da Junta de Freguesia de Carnide, Câmara Municipal de Lisboa e Associação de Moradores do Bairro Padre Cruz.

Ficha Técnica

 

Adelino Coelho;

Ana Andrade;

Ana Neves;

André Almeida;

Bruna Moutinho;

Catarina Figueiredo;

Eva Silva;

Filipe Fernandes;

Inês Silva;

João Sousa;

Madalena Cunha;

Mariana Rodrigues;

Miguel Pais;

Tânia Almeida;

Telma Santos;

Tiago Alves;

Virgílio Semedo;

Micaela Pereira;

Prof. Ana Cristina Gouveia;

Prof. Maria José Gonçalves;

 Prof. Maria Manuel Passas.

 

Com especial colaboração da escritora Fátima Freitas.

 

 

 

 

Trabalho realizado no âmbito das disiciplinas de Geografia, História, Educação para a cidadania e Matemática.

Ano lectivo 2013/2014

Escola EB 2.3 do Bairro  Padre Cruz. - Lisboa

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